sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Singular.

Você não é maior que o chão que você pisa. E mesmo que alcance o teto, não é capaz de abrir a porta. Encarar o mundo que você escondeu dos olhos. Quando se esquece do profundo, o raso vem te consumir. E você nem será capaz de ver. Pois fechou os olhos tão forte que esqueceu de como é andar sem os pés.
Mesmo que você hesite entrar n'gua, você caminha sobre ela. Pois este asfalta que construiste - este que aborta a flor amarela - pisa em você e assume o controle relembrando que é o ambiete que escolheste habitar, mas ignorou todos os cuidados que precisa. Tornando-se de inteiro, a meio, á quarto.

Otra.

O papel que seca, mas deixa escorregar meus olhos ao chão. Seus pés, os dedos flexionados. A grade que te impede de se afogar, te deixa mais perto ou longe de si. Ele também assiste. Assiste no que precisar. Ser assistido. Só quer ser visto. Ser ouvido. Só tenta existir.
Então, dance, querido.
Imovel ninguém te enxerga.
Então, fuja.
Ninguém te quer aqui.

Fumaça

Engolimos a espera - ou esperança - de praticar o que descobrimos e sustentamos como exemplar. O fim de ano soa como roubo, não permitimos - mas no final, pouco importa o que achamos que controlamos - não permitimos que crie-se distância do que fomos até então. A fumaça do teu cigarro não esconde teu choro, nem teu desespero. Larga a bituca, larga a mão, o corpo todo. Deixa tudo o que te prende. Livre. Seja então. Sinta o vento como o sal. A água não afogou Virginia, abraçou-a. E sorrindo ela deixou o corpo. E a roupa.

Até Quando?

Se não me assusta, não me alimenta. Se não me choca, não me move de lugar. Porque se os comodos já me forem comuns, vou ter de sentar e manter-me em repetição. Marcando e previnindo a covardia. Mas o medo devora-me, mastiga-me, sem saber, até quando posso não ignorar. Lucidez, já te devo tudo que sou. Lucidez, já te devo tudo que sei. Luz.

Humanos.

Talvez, eu não os reconheceria., se não fosse pelos pés. Porque tentam tanto disfarçar usando tantos acessórios, mudando as cores dos cabelos, desenhando nos braços? O cheiro do ralo vem de dentro, não adianta se esconder. Todos sabem, o cheiro vem de você.

Inconfortável é não poder cortar os pés, continuar correndo, levando o cheiro, os gestos, a covardia. Sabemos que você nunca teve pra onde ir. E nem sabe onde quer chegar. Assim.

Tinta e um pedaço marcado.

É capaz que eu ainda sobreviva ao risco feito a lápis. Com uma distorção de cinquenta centavos e uma voz rouca que vocês não foram capaz de silenciar. Há um risco de vida. Uma lasca que rege um coro inteiro. Há um risco pintado de preto, que impoem um limite. Se fosse só isso que nos impedisse... Se fosse apenas um traço no chão feito a lápis. Mas nós sabemos que o monstro deita na nossa cama, toda noite, e nos abraça e traz um boa noite. Inconfortável ilusão. Sempre o mesmo peso. Os mesmos olhos. O mesmo risco. De ignorar a realidade.

Profundo

Luz, deveria vir de Lucidez, mas se não vem, que remeta isso. Ilumine meus olhos para que haja então compreensão. Sensivel, não frágil. Quando se esquece do profundo, o raso te lembrará. Descobrir quê.

Completo, deveria ver de contemplar. Mas se não vem, que remeta isso. Porque só, e tão só assim, sei sentir. Ser. Inteiro, não individual. Quando se esquece do profundo, o raso te lembrará. Buscar...

Se aprofundar.
Fundo. Afundar.
Se libertar.
Mudando pra não deixar de ser o mesmo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Entardecer

Então, quebrou e deixamos lá quebrado. Os cacos não mais cortam, talvez até eles saibam que não há mais sangue. Dificilmente, eu me pronunciaria. Mas alguém morreu aqui. E eu não fui só, sortudos são aqueles que podem reviver lugares com personagens novos. Fortes são aqueles que sobrevivem essa experiência. O mundo todo deu quatro voltas. Para trás. Trouxe até onde podia (nada de mortos-vivos, dinheiro ou novas chances) mas as portas que eu não tranquei, me ofereceram um chá. Eu tomei.

Aguardando.
...
...
...
...
Até; Quando; Esperar?

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Termometro.

Se nem você me faz querer seguir, então estou morto.

Intimidade.

No auge do amor se encontra o que eu diria ser o absurdo. O mais perto de conhecer ou a mistura do ser com o permanecer assim. A convivência traz, mas o toque marca. Nem sempre de vermelho, mas alguma cor existe aí. E o barulho do sono me lembra casa. A que eu fiz aqui, com os seus pais, e a sua irmã. Essa casa que fiz aqui com o seu nome na porta e o meu na varanda.

O abraço de noite me traz a felicidade. Assim, percebi. Esta nunca começa, também não se estende ou termina, simplesmente é. Como foi. Como há de se repetir. O que eu disse...Bem, o que eu finalmente expus, o que eu expulsei, foi o que eu soube que você gostaria de ouvir. Porque eu precisava do meu melhor amigo ciente que ele ainda é o maior. E com isso, ninguém mais pode-se suprir sua falta. E mesmo que as qualidades sejam altas, não é disso que você é feito. Não dessa estação que você se chama. Não desse valor que você me tem. É da busca, do cheiro, do dente. Principalmente o dente. Principalmente o calcanhar. Principalmente a custela. Principalmente. Essencialmente. Obrigatoriamente, por causa que não há lá fora nada que seja tão surreal. Que grite assim. E por mais que soe como antes, por mais que repita-se em número de letras, é agora uma necessidade de ter perto. Não mais ter. Sem o amargo, só o doce de querer. Só o gosto de saber. Eu ainda estou vivo.

Todo fim de ano.

Começa por uma nova conjugação de verbo, que me faz afastar das coisas que já não pertenco mais. Deixá-las no passado. Eu creio que esse ano uma mala maior fica fora do vôo.

Por mais que tudo esteja firme agora e as torres sustentem, não me abraçam. E não aliviam a saudade. Mas não deu tempo assim de sentir falta, mas sei que se não me abraçar - essa é uma daquelas coisas que precisamos fazer sozinho - logo vai ser tarde demais pra remoer. Vou esquecendo e apagando e voltando a encolher, encolher. Assim, não vai ter mais o que sentir falta, se tudo for só a soma do que sou. Ah, se eu me arrependesse disso, e quisesse voltar a ser o que era. Ah, se eu conseguisse não acreditar na evolução e verdadeiramente desejar voltar.

Tudo entrou no trem. E levaram as malas, com as minhas cartas. A partida foi rápida pra não poder sorrir, ou era pra doer menos? Não sei falar de dor porque ela se modifica tanto quanto meus textos, que se perdem em meio a tantos pensamentos que não sabem se organizar. Sei só que não há comodo que tenha permanecido igual. Da sala aos quartos, até mesmo as escadas estão diferentes. O elevador não traz convidados. A mesma quietude de sempre, tempo pra lembrar. Muito tempo e poucas coisas a serem lembradas, poucas coisas que desejam ser ditas em voz alta.

As linhas se fizeram curvas. E os trilhos sumiram. E eu ainda me esqueço que continua se movendo. Como se todos os passageiros lá - meus, digo, antigos - estivessem a espera. E descongelassem a cada acaso que nos encontramos. Nos lembramos. Ainda existimos, mesmo longe, ainda longe, de longe iguais.

domingo, 14 de novembro de 2010

Um só não tem glória.

Enfim, em estado permanente.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

No decorrer.

Me ocorre agora. Corre dentro de mim, esse medo. Ecoa em mim, todo. Absoluto. A alma mesmo se obriga a amar, mas não ama. Pura obrigação. Mantém-se perto, mas não se aproxima. Esfriou.
Encolhendo. Encolhendo, encolhendo, encolhendo. Por dentro, eu me encontro e discuto o mundo. Vivencio o resto através da tela que escolho ver. As cores sobressaltam as palavras. E é fácil me perder, será que alguma vez escapei e esqueci de voltar? Se tudo isso for apenas a fuga, nada mais? Se nunca voltei pra dentro de mim? Onde estou?

Este ano me levou tudo. Atingiu-me e ensinou-me de ser o agora. Invadiu todos os comodos e tirou-me tudo. Me sinto tão pequeno e tudo mantém-se em movimento. O trem segue, leva, deixa. Traz saudade e a leva. Me leve, então.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Um exercício de exercito.

Mal acho as palavras, assim como não encontro mãos pra expressar meu coração parando de bater. É uma sensação de dor que não encontra mais esperança. Talvez seja a convivência com o suportável que me diz que isso não é mais viver, é morte, e mesmo que soe "magóas comuns", bem comum só se for o ato de não sentir mais.
Tantas vozes que me abandonaram que me deixa tão vuneravel lembrar. Ler, reler. E provavelmente sou o único a sofrer o efeito do enjoou em ser tão honesto. O que se canta, e não se devia ouvir. O que se escreve e não devia ser revelado. Só doí. A não ser que eu...não, fingir já tem sido praticado tempo demais.

Não quero uma pausa na dor, mas o fim. Se não for possível que seja o fim de qualquer coisa. De mim; de meus dias; de meus medos; do que é meu.
O que deixei em meio a busca foi procura. Ninguém me procurou. Ninguém procurou saber.
O que deixei em meio foi o enredo. Ninguém leu meus olhos. Ninguém soube o fim.
Bem, foi esse.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ela disse.

Era em meio de Junho, ou Julho - igual o do livro - e era um dia comum. Como todos os dias, estava vivo - e permanecer vivo era um custume que não se permetia lembrar do seu começo - levantou-se as seis e meia (ou será que já passava das seis e trinta e três?) e manteve-se inerte mentalmente, acordou apenas depois da uma e meia. Saiu do trabalho com a costela ardendo - a tinta secou, mas provocava uma certa coceira de saudade, um medo de um dia tornarse a ser não mais uma representação, mas em si o amor - e se isso fosse não o começo, mas a felicidade?

Todos os dias são comuns. Sem dúvida, são. Ora, se eles não começam e terminam da mesma maneira? Todos iniciam-se da maneira mais rápida e inesperada e terminam com uma xícara de café bem escuro e uma TV ainda ligada. Ao menos, todas as noites são assim aqui dentro. E Orlando e até mesmo a senhora Dalloway decidiram passar as noites por aqui. Lendo-me como livro, sem intromessões e influênciar - e tão nitido de verdade, de detalhes, "rico de silêncios".

Ai de mim, então se não me explicar aqui. Era de tarde - ou pelo menos assim, sentia-se numa - e alguma parte de mim reflitada ali não sabia mais porque estava ali. Desejei ser um livro, melhor ainda, um leitor. Apenas isso, se pudesse me alimentar de letras - jamais mastigar - e pudesse ver além dos rostos, poder admirar e me aproximar sem mudar a posição ou a próxima ação expontânea. Se pudesse fixar-me sem pressionar ou ainda intimidar meu livro - todos os seres humanos, animais, vegetais, ficticios; todos;

Ele disse. - Ou seria Ela? - 'Eu vou comprar as rosas eu mesmo' - ou seria 'Eu prefiro as pessoas á Couve-Flores'. Não tenho certeza. Só me lembro que estava frio. Foi sincero. E numa manhã comum - porque todos os dias são comuns - ele tornou-se flor.

sábado, 31 de julho de 2010

O mesmo por aqui.

Muita dor, pouca vontade, metade de certezas e alguns goles de verdades. Só o que podemos aguentar. É o que temos pra hoje. Mesmo.

Born Woman

Born Woman.

Como te contei - quase toda noite fazia questão de contar - hoje foi díficil. Não ouvi sua voz nas últimas 24 horas. E precisamos encarar os fatos - quebrando as barreiras com a única pessoa que me permite ser nada menos. O limite entre todos nós fica riscado com uma caneta bem fraca pra nunca precisarmos assumi-lo, mas sabemos que quando um de nós se tornar um peso, o outro tem de seguir. Somos insubstituíveis, eu sei. Mas não somos eternos e muito menos desnecessários. Você já nasceu pronta antes de me conhecer. Se fez ainda maior e me ensinou a persistir. Eu não sou feito de medalhas, nem de corações. Eu tenho apenas dúvidas a oferecer, nunca respostas.

Nós juntos escolhemos o extremo, nunca pouco, nunca metade. Eu casaria e dormiria todas as noites - sem pensar ou desejar outra pessoa - feliz. Na mesma cama, com o mesmo respeito e os mesmos olhos. Eu te amo, mais. E confio, mais. A cada dia, mais. A cada novo eu que sou, mais. E admiração, mais mais mais.

Mas querida, eu ainda não terminei. Eu ainda não comecei, na verdade. Eu não pude dizer nada porque não quis te ligar. Não, ah como eu quis. Quis a cada segundo que quase perdia a voz porque ninguém podia entendê-la. Mas evitei ligar.

Não insisto, mas torço, rezo e quase me entrego quando coço a garganta e afirmo o timbre pra perguntar se você poderia ficar um pouco mais. Mais uma conversa, mais um café, mais um minuto de quem sou aqui perto de mim. Se você se importa em ouvir ou simplesmente em falar algo mais sobre você. Esse cotidiano todo que eu quero ouvir. Essa paz toda que eu quero sentir. Esses medos todos que eu quero que se tornem meus, os fantasmas que eu quero lutar. Essa vida toda que eu quero somente fazer parte. No papel que você me oferecer. Mas se houver alguma fala que não seja ‘Adeus’.

Sábios.

Fora a bebida, não há nada errado aqui a não ser verdade. A que não se pode dizer em voz alta, nem pra si mesmo. Que os ignorantes dizem prefirir sem perceber o estrago. O gasto. O desconforto que vamos de frente. Aplaudiram-me logo que tentei remoer quem sou. O mais rápido que eu decidisse pra que todos pudessem voltar a sua distração, os goles de solidão e as carreirinhas tão brancas quanto o passado que inventaram. Nada me condiz, nem me convida á fazer parte. Talvez, não há mais caminhos pra dor. O amanhã não vai chegar, até voltarmos pra quem somos. Só essa tontura, essa queda. Aprenderemos a não errar, mas acertar seria contradição.

As palavras já não me acompanham mais. Nem minhas pernas sabem o que dizer, como correr, onde parar. Meus amigos só aparecem, pouco mais. Ou isso basta. O silêncio vem para todos, o descanso se encontra somento no fogo, em quem está queimando. Assistir - quando se tem consciência - nos torna cumplices.

Felicidade. Talvez seja, um pouco de cada dia que não volta e um pouco do novo se expandindo dentro de mim. Como uma faca abrindo meu peito e mostrando o drama todo que sou. A miséria de sentimentos ainda corajosos de sobreviver a esse inverno. É o misto da dor com a vontade de sentir ainda mais. O medo com o valor de passar por cima dos deveres. É um pouco de tudo. A felicidade nunca é, nunca vazia, nunca fica. - Fria - Talvez, não seja pra ficar. Talvez, não sinta vontade de nos acordar.

domingo, 18 de julho de 2010

Consolo.

Ameniza, mas não apaga. Sonhei hoje - num curto relampago de sono que tive - eu acendi outro cigarro e matava, de uma vez por todas, as barreiras. Acordei, ainda abraçado. Era um dos melhores abraços que dei e recebi (como dizem que abraço é um presente que é sempre reciproco). Lembrei-me então do que me contaram e senti um enjoou forte. Abracei-o mais forte. Tentei mantê-lo meu, por algumas horas. Ele - que começou e depois manteve-se pacifico - balanceou as pernas o que me fez pensar se não seria um daqueles abraços que se tenta recusar, sem magoar. Então pensei 'se deveria ir, porque não vou?' Se deveria sumir, porque não simplesmente sumo. Não fazer as malas, mas me disfazer e perder a forma, a cor, o timbre.

A vida que eu levei, quase me levou por onde eu luto pra fugir. Eu me arrependi muito agora que descobri o que fiz. Eu realmente não poderia ter feito isso, se tivesse qualquer parte de mim ali, qualquer essência, mas quem escolheu a loucura foi o medo. Meu medo. Aceito a covardia tão bem quanto aceito meus defeitos. Pra que assim possa vencê-los. Orgulho-me das palavras ditas e das verdades que não se escondem mais. Ao menos, eu fui quem sou, ali.
Eu queria ao menos me lembrar desse pequeno trecho, o único que me arrependo. Eu queria pelo menos entender como cheguei ali. Me consolo em encontrar linhas e mãos dadas.

Meu grande desespero em perder é atoa. Porque as mutações do mundo não atingem os que realmente se ofereceram em ficar. Amém.

sábado, 17 de julho de 2010

Until i walk in.

Encare. Olhe seu rosto ébrio no espelho e reflita o que faltou dizer. A desculpa já está exposta, diga em voz alta. Ele ainda é, nunca deixou de ser. Você já provou tantos outros sabores e tantos outro amores e tantos outros que não fizeram teu ouvido ensurdecer e contruiu um muro levando-te para longe.
Já não estás sensivel demais? Porque aflorar a dor e dramatizar, o palco foi desmontado. Eles não vão rir do seu nariz, é banal. Vai embora, com sua honra vendida. Cace o caminho de volta e renda-se ao sono pra amenizar então o que sentes.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Presunção.

Você me fez acreditar em diferentes verdades que sua boca escolhia como forma de se auto-proteger. E achando que sabia o que me faria feliz, tentou me dar um novo mundo o qual nunca existiu fora de casa. Assuma agora minha dor, porque você quem me tornou frágil assim. Se ao menos eu soubesse o que é dor, poderia ter me acostumado ao longo dos anos. Se pelo menos eu soubesse o que é perder, eu poderia entender melhor o que é jamais ter outro abraço. Se ao menos, fosse menos perdas, menos problemas, menos pensamentos, eu poderia me completar.

Pride

O silêncio não mais me atormenta, porque eu quase nunca estou só completamente. Os meus pensamentos falam mais alto do que os carros na rua em época de Copa do mundo. Eu revi muitos segundos - os últimos que ele teve - e fiquei á pensar. “Não que eu os ame menos, mas nossos filhos, querida, foram o resultado do nosso grande amor. E até o fim ficamos juntos, ah, o meu fim. Me doi tanto te deixar quanto me doi ficar aqui e te fazer tanto mal”. A porta se abriu e eu não tive uma respiração, tarde demais. A enfermeira não correu, os médicos não se apressaram. O último andar era feito pra isso. Esses últimos dias, últimos minutos. Esse um ano que lhe transformara em barata e o mantivera em cativeiro cercado de tanta censura e tanta dor. Ele esperou sua esposa, e quando sentiu-se tão feliz quanto poderia ser um homem, fechou os olhos e entregou-se ao descanso.

Sete e vinte. Dia quatro de Junho de dois mil e dez.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Nunca saber.

Já acabou. O pesadelo todo e toda a chuva fina que impedia você de sair. O que te aguarda ninguém sabe. Suas pernas te levarão pra onde você quiser ir, ande. Leve contigo a dor porque ela te fez maior. Mas agora vá, sem demora. Encontre a sorte e se ela pude responder, descubra o quanto você tem sem saber. O quanto ensina sem saber. O quanto.

Eu finalmente disse. Morreu. Ainda sinto enjoou forte e muita dor no corpo. As vezes meu peito arde e me sinto caindo sozinho. Falar mais? As palavras já se conhecem e se repetem..é uma fase de clichês.

Esse um ano congelou e agora não acompanho mais nada. Perdi o ritmo e uma semana passada já roubou meu lar. Minha sanidade. Voltemos. Não importa como doa, sempre voltamos. Lembramos. Desde que não viva nessa lembrança, deve sentí-la. Os passos de hoje marcam a calçada e o mesmo sapato que calça. Olhar pra trás, um dia, será capaz de te lembrar uma vida. Mas quantas delas passaram por você depende de quantas ruas percorrer. De quantos bairros entrar. De quanto suas pernas conseguirem andar.

Então, se tiver a sorte de conhecer alguém que te faça querer seguir. Agradeça. E siga-a. Porque há caminhos que só os melhores amigos podem te levar. Onde há esperança; Onde houve amor; Onde há espaço pra se construir sonhos e algum eu-lirico.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Esta se tornando uma dor de uma semana. Talvez pendure por mais um mês, ninguém sabe quanto tempo isso dura. E quando se deve intervir. Mas eu realmente queria me entregar a ela, mesmo sabendo que os dias continuam a vir. E não vamos voltar mais pra onde paramos. Aquilo parou e ali descansou. Assim como meu heroi descansou, depois de tanta dor. Queria mesmo aceitar já que ouvi todo dia sobre como ele estava indo pouco a pouco. Seja pra onde ele foi, eu sinto falta. Aprendi a sentir vontade de tê-lo perto. Queria agora voltar acreditar numa melhora. Todas as coisas que ficaram, todos os discos, as roupas, a saudade que restou. Cada ligação perdida, sem mais conseguir chegar até ele. Há tantos que nem sabem ainda. E já passou uma semana, já acordei e fui dormi. Pintaram meu quarto, trocaram meus vicios e deixaram a janela aberta pra secar a minha dor. Tudo passou.

Tão cedo eu descobri que não saberia mais como escrever. Perdi o dom ou ainda pior a voz. Tanta coisa presa que não sabe como sair, não desconhece os caminhos, mas não encontra sentido. Será mesmo verdade? Esse pesadelo está durando demais. Está começando a me cansar. E voltar aos meus costumes tão detestáveis me enlouquece. Outro dia sem sentido. Onde vamos assim?


A auto-pena começa a se instalar, come na mesma mesa de quatro cadeiras. Agora só tem três moradores. E esse espaço vago, que era o mais usado, me soa mal. E do meu lado da cama tem mais pensamentos do que meu travesseiro pode tampar. Queria ser homem de aguentar. Mas as segunda-feiras estão começando a se multiplicar e esse meu medo de me tornar menos eu mesmo. Espero que o tempo mantenha-me preso nesses ventos que me impedem de desistir. Eu quero continuar na mesma linha pra não ter de olhar pra tras e ver que já fui tanto mais. Eu quero me sentir inteiro e completar-me com minha compania.

Escrevo aqui os meus pesames. O meu 'sinto muito'. Porque sinto. Sinto incondicionalmente. Sinto em cada passo, em cada calçada, em cada rima. Eu fecho os olhos e apago. Me desligo pra não rever. Eu sinto um ano inteiro. Sinto uma fisgada. Sinto. Não digo, não abraço, não choro. Sinto.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Antigos sapatos.

Que marcam a mesma calçada.

domingo, 23 de maio de 2010

O gosto de ter amigos.

Ela disse, já de cachicol vestido, o quanto estava completa em estar ali. E o jeito que ela me olhava me inspirava acreditar em mim mesmo. Me dava coragem pra continuar. Ela pegou as minhas palavras antigas e deu-as chance de serem novamente ouvidas e assim retomaram seu valor. O seu gosto inicial. Eu não quero me individualizar, eu quero ser apenas parte de todo o progresso. Quero ser um dos que ajudam, quem dera pudesse dizer apenas mais um dos que ajudam.

O bom gosto de ter amigos é o auge da felicidade. Porque acima da dor e acima do amor, estão as pessoas que fazem parte de quem você é. De quem você se torna a cada dia. Não sei se eu fumo ou parei. Não ligo. Não ligo mais em por nome em cada dia e em cada ato meu. Que me faça real e me abra os olhos. Sempre há como crescer.

É assustador descobrir fora de casa a vida inteira que se perdeu. A essência que meus pais não tem. Os meus criadores nunca viram o que eu aguento. O que eu gostaria, até por covardia, de as vezes não pensar. É sufocante acordar e enxergar toda essa realidade que me foi imposta como um filme de uma forma não pálpável e ver que quem dorme na minha calçada é mais real do que todos meus sonhos que ainda estão sem chão.

Enquanto falo, ainda há vítimas. O que talvez devesse ser comédia pela imprevissão, vítima e contexto, é um dilema insuportável. Não haverá paz, enquanto continuarmos a devorar e explorar outras especies. Onde está a igualdade? Onde está a liberdade? Não haverá nenhum homem livre, enquanto houver um oprimido.

Se o mesmo chão que marca o asfalto marca meus sapatos, não há como negar. Nada pendura, se não a mudança. Se não a insatisfação e a busca de um mundo melhor.

Pra cada livro, há um analfabeto.

É como se o amor se tornasse real hoje após tanto se falar dele. E se pudesse preservá-lo, talvez nunca mais arriscá-lo, seria deixando de existir hoje. Deixando apenas o lado mágico restar. Assim sobrar em nossas memórias, em nossas perspectivas.
Pra cada amor existe uma pessoa cansada demais pra amar. E cada poeta novo que nasce, há uma legião de pessoas que não se importam em entender. Menos do que não conseguirem, fazem questão de manterem-se, como já a condicionaram, a nunca saber.
Hoje, eu vi que realmente o mundo está errado. Não era minha cabeça, não era minhas conspirações. Tem muita além de nós. E nunca pude conversar tanto e sentir tão certo quando Ele, acreditando agora pela primeira vez na existência de Deus já que só uma força maior ou talvez com nome diferente mas mesmo sentido tenha sido o acaso/destino/sorte, pra Ele ter surgido assim, inesperadamente.

A bicleta estacionada bem ao seu lado, não me chamou atenção. E a maquina fotográfica apontada pra parede bem à minha frente, não me ajudou a entendê-lo tão bem. - Você poderia tirar uma foto nossa? - Eu nao esperava pela minha amiga agir assim. Me senti envergonhado, sem sentido, mas fiquei mais acolhido quando vi um sorriso e um sim do gentil rapaz que nos assistia. Clicou a foto e logo depois clicou de novo com um flash. Sentiu-se frustrado pela qualidade e tentou outra vez, tendo um resultado ainda melhor.
Descobrimos então que fotografava seu próprio trabalho, que vinha de muitas ideias e mais do que isso, mas sabedoria e interesse em se envolver em coisas menos individualistas. Debatemos história e todo o sistema que nos torna quem somos, ou pelo menos, tenta nos moldar a medida que nos curvamos as suas ordens.Eramos estranhos conhecidos que queriam mesmo se conhecer. A compania foi a mais agradavél da noite toda. E o convite de um vinho, após nos ensinar seu truque secreto de comprar mais barato, foi o necessário pra caminharmos e nos sentirmos em casa.

Em meia a tanta verdade e tanta cultura, descobrimos o seu nome (o que não vale citar pra que a arte se torne, ao meu ver, mais fácil de se adequar aos momentos cotidianos, afinal hoje foi um domingo, o que geralmente são domingos calmos e sem muito barulho, que passariam rápidos demais, sem se tornarem memoráveis). Também pudemos encontrar um certo humor e carinho dentro há tantas palavras trocadas. Escolheu um vinho, pelo preço e qualidade. Era italiano e com um cheiro que causaria uma leveza sem igual. O sabor ainda melhor. E a conversa se extenderia por dias, se não fossem as obrigações que tanto nos matavam. Estavamos já no caminho de casa e eu não queria mais incomodá-los, pois o amor surgia nos meus olhos. E o jeito que ele crescia me mostrava os dentes e estava realmente feliz porque era como se fossem feitos, de um jeito até american way of life but true, um pro outro.
Chegamos perto demais de casa, onde Ele não poderia se aproximar. O motivo que lhe ainda fazia criança e lhe dava obrigações estava a espera da garota. Se aproximar mediante a isso poderia causar mais problemas, então despediu-se. E foi sincero em um abraço e um beijo, sem malicia até coberto de fraternidade, que recebi. Me afastei, agora era a chance deles se olhassem. E assim dizerem 'Boa noite'. Dizeram. E os olhos se fecharam junto com todo o resto do mundo, o qual eu pertencia, e se fizeram ali dois. Os dois únicos seres do mundo. Os únicos que respiravam e sentiam verdade.



- Repete pra mim. "Hoje quando a noite..."
Pra cada doce existe um amargo pra te mostrar. O quão doce pode-se ser. O quão amor pode se dar. Valeu a pena cada passo dado que marcou a calçada e marcou nosso sapato. Valeu a pena cada gole e cada cigarro que não largamos. E por fim, foi um prazer.

sábado, 22 de maio de 2010

Mas no fim...

Em meio há tantos e tantos goles de saudades, eu deixei de ver. Tirei todo aquele orgulho do peito e deixei de enxergar tudo como deixei-me acomodar a sentir. Não eram um grupo de ex-amigos que estavam no bar, cinco ou sete pessoas que conversavam sobre assuntos que um dia foram minha vida inteira. Mas não. Eram ali meus novos amigos, sempre os mesmos, mais velhos. Somos velhos agora. E olhamos pro resto de pessoas que ainda frequentam escolas e tem horas de voltar pra casa, e rimos. Porque eles nunca vão saber o quanto aquilo fará falta um dia. Porque me contaram que fariam, tentaram me dizer o segredo do mundo, como a vida lhe corta as pernas e te rouba tudo. E mesmo assim, não vi. Não quis entender.

Ah, como aproveitamos cada dia que tivemos. E nunca mais vamos ser tão puros como fomos. E não tem como esquecer. Não tem como não chorar, toda vez que bebo e logo percebo. Logo vejo, logo finalmente entendo. Somos os mesmos, a velha guarda. É tudo o que eu quero.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Walk alone.

Eu gosto de ter esse gosto acído em caminhar só cheio de tanto e mesmo assim calado. Gosto de como a sala pega fogo atraves dos meus olhos tão fantásticos e como me distraio. É mais fácil assim me sentir confortável com meu corpo, quando me tranco no meu quarto. Quando me entrego a livros e despenso pessoas. Quando tudo que me fortifica está nos meus ombros.

Me sinto bem errando em virgulas, mas limpando a garganta de tanto á guardar. Gosto do intusiasmo que sinto em te ver, seja você quem for. Mas me traz esse medo de rejeição que tenho desde que nasci. E eu vou seguindo assim, me tornando cada vez mais esse nome que ninguém sabe pronunciar.

Dormir ouvindo vozes de fantasmas já se tornou algo cômico. E rir faz tão parte de mim quanto a confusão de tudo que existe e tudo que me permite fazer parte. Eu queria encontrar um refúgio em meio a tanta guerra de sentimentos. Eu poderia sentar pra uma café? Preto igual o escuro que eu quero ficar, se tuas mãos forem tão minhas quanto o teu coração. Que seja sempre igual me lembro de ti, agora, que ainda não te conheço. Que eu possa me manter inteiro, sem alterar. Se puder então acrescentar, venha e fique o tempo que puder. Eu não me cansaria. Eu não me conheceria, se fosse outra pessoa.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Furação.

Todo assassino volta á cena do crime tempos depois. As vezes só pra ver o que restou. As vezes pra se lembrar ou até se vangloriar do que cometeu. Todo poeta se obriga a olhar nos olhos do passado e se vende por qualquer preço pra encontrar o que não pode dizer. Não importa quanto doa, porque doer é arte. É dessa dor que se criam. Dessa dor que morrem.

Sinto que estou criando algo complicado. Estou me tornando algo fácil de confundir. E se eu pudesse provar tudo o que não sou, não bastaria pra te fazer ficar. Não me faria menos explosível, menos mutável. Sinto que estou levando nas costas tudo que posso, enquanto me arrasto dentro da sala. Sem portas. Não vou a lugar nenhum, nunca sonhei sair daqui. E por covardia não fui capaz de largar todo o resto. Só resto. Só sobras. Nada do inteiro que sonhei.

Estou pronto pra explodir. O espaço não suportaria. O branco implora pra não ser sujo. "Mantenha calma, pelo amor de Deus". Nem eu mesmo poderia existir depois de tudo o que meus olhos diriam. Eles sabem demais. Eu soube demais. Hoje já não sei nada. Não me lembro mais dos sonetos. Nem das flores. Nem das dores.

Até onde foi meu amor? Até onde fui capaz de mantê-lo? A espera não seria tão longa se pudesse me escrever um pouco. Porque deixaste-me tão ansioso por teus sopros de reprocidade?

Como um furação, eu sou. Sem avisar. Sou tão maior do que esses ventos que entrego em vão. Meu pranto em mãos. Meu choro em linhas. Sou evolução. Sou a desconstrução do passado. Do engraçado. Do real.