sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Singular.

Você não é maior que o chão que você pisa. E mesmo que alcance o teto, não é capaz de abrir a porta. Encarar o mundo que você escondeu dos olhos. Quando se esquece do profundo, o raso vem te consumir. E você nem será capaz de ver. Pois fechou os olhos tão forte que esqueceu de como é andar sem os pés.
Mesmo que você hesite entrar n'gua, você caminha sobre ela. Pois este asfalta que construiste - este que aborta a flor amarela - pisa em você e assume o controle relembrando que é o ambiete que escolheste habitar, mas ignorou todos os cuidados que precisa. Tornando-se de inteiro, a meio, á quarto.

Otra.

O papel que seca, mas deixa escorregar meus olhos ao chão. Seus pés, os dedos flexionados. A grade que te impede de se afogar, te deixa mais perto ou longe de si. Ele também assiste. Assiste no que precisar. Ser assistido. Só quer ser visto. Ser ouvido. Só tenta existir.
Então, dance, querido.
Imovel ninguém te enxerga.
Então, fuja.
Ninguém te quer aqui.

Fumaça

Engolimos a espera - ou esperança - de praticar o que descobrimos e sustentamos como exemplar. O fim de ano soa como roubo, não permitimos - mas no final, pouco importa o que achamos que controlamos - não permitimos que crie-se distância do que fomos até então. A fumaça do teu cigarro não esconde teu choro, nem teu desespero. Larga a bituca, larga a mão, o corpo todo. Deixa tudo o que te prende. Livre. Seja então. Sinta o vento como o sal. A água não afogou Virginia, abraçou-a. E sorrindo ela deixou o corpo. E a roupa.

Até Quando?

Se não me assusta, não me alimenta. Se não me choca, não me move de lugar. Porque se os comodos já me forem comuns, vou ter de sentar e manter-me em repetição. Marcando e previnindo a covardia. Mas o medo devora-me, mastiga-me, sem saber, até quando posso não ignorar. Lucidez, já te devo tudo que sou. Lucidez, já te devo tudo que sei. Luz.

Humanos.

Talvez, eu não os reconheceria., se não fosse pelos pés. Porque tentam tanto disfarçar usando tantos acessórios, mudando as cores dos cabelos, desenhando nos braços? O cheiro do ralo vem de dentro, não adianta se esconder. Todos sabem, o cheiro vem de você.

Inconfortável é não poder cortar os pés, continuar correndo, levando o cheiro, os gestos, a covardia. Sabemos que você nunca teve pra onde ir. E nem sabe onde quer chegar. Assim.

Tinta e um pedaço marcado.

É capaz que eu ainda sobreviva ao risco feito a lápis. Com uma distorção de cinquenta centavos e uma voz rouca que vocês não foram capaz de silenciar. Há um risco de vida. Uma lasca que rege um coro inteiro. Há um risco pintado de preto, que impoem um limite. Se fosse só isso que nos impedisse... Se fosse apenas um traço no chão feito a lápis. Mas nós sabemos que o monstro deita na nossa cama, toda noite, e nos abraça e traz um boa noite. Inconfortável ilusão. Sempre o mesmo peso. Os mesmos olhos. O mesmo risco. De ignorar a realidade.

Profundo

Luz, deveria vir de Lucidez, mas se não vem, que remeta isso. Ilumine meus olhos para que haja então compreensão. Sensivel, não frágil. Quando se esquece do profundo, o raso te lembrará. Descobrir quê.

Completo, deveria ver de contemplar. Mas se não vem, que remeta isso. Porque só, e tão só assim, sei sentir. Ser. Inteiro, não individual. Quando se esquece do profundo, o raso te lembrará. Buscar...

Se aprofundar.
Fundo. Afundar.
Se libertar.
Mudando pra não deixar de ser o mesmo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Entardecer

Então, quebrou e deixamos lá quebrado. Os cacos não mais cortam, talvez até eles saibam que não há mais sangue. Dificilmente, eu me pronunciaria. Mas alguém morreu aqui. E eu não fui só, sortudos são aqueles que podem reviver lugares com personagens novos. Fortes são aqueles que sobrevivem essa experiência. O mundo todo deu quatro voltas. Para trás. Trouxe até onde podia (nada de mortos-vivos, dinheiro ou novas chances) mas as portas que eu não tranquei, me ofereceram um chá. Eu tomei.

Aguardando.
...
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Até; Quando; Esperar?