domingo, 8 de março de 2009

Bons sonhos.

Só me lembro que estavamos com tédio. A única lembraça nítida e real foi o caminho até o quarto. A pequena e curta distância entre a sala, o corredor e a primeira porta. Uma cama de casal, só pra nós. Mas era o tédio que predominava, que chovia em nós. Era apenas essa sensação de vazio que se alojava por dentro. E eu tinha me decidido guardar as esperanças, naquele dia. Eu não esperava por essa. Eu não vi que estava tão perto, você poderia ter me alertado. Mas já não sei se isso ainda faz parte da minha lucidez. Me lembro da luz se ofuscando e dos jeito que seu corpo dançou ao tocar a cama. Vestido. O jeito que você fechou os olhos. E eu não posso mais assegurar a fidelidade com os acontecimentos reais. Com os fatos. Porque tudo é subjetivo, subjetivo o bastante de todo esse tempo no quarto eu ter estado sozinho. No absoluto sozinho. E eu fiquei preso a você, com o seu corpo ao meu lado. A subjetividade é algo incrível, mas os dois lados ( o bom e o ruim) são muito divididos e muito fortes. O que me faz hesitar.

Deitamos. Ele se mateve ao meu lado, com um toque sútil em meu corpo. Eu mantive minha mão nos seus lindos cabelos negros. E ele permitiu-se fechar os olhos e descansar. Sua respiração me neutralizou. Estático e sem ar, eu estava admiriando-o. Sem piscar. Eu podia guardar esses segundos, minutos, que poderiam durar dias, anos, séculos...Os guardaria no meu coração, pra sempre. Mas você virou. Com os olhos ainda fechados, virou-se. Algo extintivo. Não calculado. Tirei minha mão. Decidi deixá-lo dormir. Mas você virou-se novamente...Dessa vez, abandonou a cama e deitou no meu peito. Eu desmaiei. Com os olhos abertos, com o calor da sua mão, e todos os mil pensamentos, gritos, risos e choros borbulhando no silêncio da minha boca e no escarcel da minha mente. Mesmo ainda não tendo, parecia uma inversão de papeis. Mesmo as coisas estando no mesmo, exato, lugar. Eu sempre me vi e me deixei seguir, pela sensação de pequeno que sinto ao me aproximar do menino que agora estava agarrado á mim. Tão pequeno, frágil e necessitado de abraços. O que mais desejo, é ser abraçado e acolhido. E agora, estavamos numa posição física invertida, mas por dentro tudo estava igual. E como o físico é sempre passageiro, estavamos no mesmo lugar.
Continuei acariciando seus cabelos e o cheiro que substituia meu oxigênio era tranquilizador. Eu me senti no céu. A perfeição apoderou-se de mim. E me permetiu alguns minutos de felicidade absoluta. As vezes, minha mão deslizava do seu cabelo para seu pescoço...As vezes corriam pelo seu braço e por fim, meu dedo tocou seu nariz.. Quase tão fraternal quanto um pai colocando sua filha de quatro anos na cama e cantando uma canção.

Lá estavamos nós. Deitamos. Abraçados. Sonhando...Com suas realidades subjetivas. Enquanto ele procurava o mundo perfeito e talvez até a pessoa perfeita nos sonhos, a minhas estavam bem ao meu lado. Abraçando-me. Tocando meu peito. E me anesteciando da pressão do mundo, do medo do futuro e da solidão.
Naquela noite eu tive bons sonhos. Tão bons quanto os que eu tive com os olhos abertos.
Tão bom quanto os dele. Tão bom quanto os dele com ela.

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