quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Mordida. (Epílogo).

Era uma calmaria comum de uma quinta-feira. Mesmo isso estando longe do fim, mesmo sendo apenas o grande ínicio. De alguma forma, o destino já havia destribuido as cartas. Mesmo com todo o jogo ainda indecifrável, agora era o meio-tempo. Entre o fim da primeira parte, da primeira rodada. E o que estava por vir.
Alberto estendia suas longas pernas nuas, em frente ao espelho do banheiro. Admirando seu reflexo perfeito. Seus olhos brilhavam para si mesmo, ele nunca fora tão incrivelmente feliz e admirado com o seu belo corpo juvenil. Após um longe tempo, tinha atingido a perfeição sobre-humana. Semi-nu, vestido apenas pela cueca branca, justa e um par de meias, inexplicavelmente brancas, mesmo tocando o chão sem proteção alguma, permancia no mesmo tom pacifico da outra peça de roupa. Seu rosto desmonstrava estar confortavel dentro daquele banheiro.

Seu melhor amigo e também seu criador, se moldou ao seu lado. Sem trazer nenhum aviso, nem o barulho dos passos, nem o cheiro, nem se quer uma brisa para alertar a sua chegada. Mas Alberto não pareceu surpreso com a sua chegada. Mesmo com a agilidade que o segundo vampiro passou pela porta, quase invisivel, não assustou.
Também coberto com apenas duas peças de roupa, como se os dois acabassem de despertar. Não era uma conhecidência bizarra, pois não houve estranhamento de nenhuma das partes com os trajes não convencionais.

Apesar do rosto do primeiro vampiro permanecer estático, fitando o espelho. Impressionado com a sua nova aparência. Que não estava muito diferente do comum, apenas seus musculos pareciam maiores e seu ar sombrio. Ainda mais sedutor.
Os dois vampiros tiveram uma longa conversa, em silêncio, com olhares. Caso fosse filmado ou detalhado. Diriam que era como um antigo filme mudo, um músical talvez. Que trazia em si o romance e a seriedade. O silêncio intensificava ainda mais o charme.
Por fim, o vampiro mais velho libertou as primeiras palavras, quebrando o não-inconviniente e não-perturbador silêncio.

- Como você está? - Apesar de ser retórica, a pergunta pareceu sincera e curiosa.
O segundo vampiro, mais bonito, com um sorriso malicioso, virou-se. Abandonando o espelho. Aparentemente, mesmo sendo mais novo, sua inflûencia era nítida e gigantescamente maior. Seus olhos penetrantes, sua beleza sobrenatural, junto com os anos de amizade e amor o tornavam ainda mais poderoso. Alberto continou em silêncio, enquanto deu um passo a frente. Foi tudo o que precisou para ficar tão próximo do outro vampiro, capaz de ouví-lo respirar, se por acaso algum deles decidissem se dar ao luxo de sugar um pouco de ar, desnecessário para mantê-los...O que já não eram mais, vivos.

- Eu estou muito melhor agora que você...me mordeu. - Sorriu como um agradecimento. Seu maior sonho era real. E ele estava sem palavras para agradecer o novo corpo, os novos poderes e poder não ser chamado de humano mortal, mas ter um novo nome agora. Vampiro.
Isso foi apenas uma tentativa de agradecer um favor, não tão voluntário, como se alguém fosse capaz de negar á ele um desejo. Um pedido. Qualquer coisa.

Os dois homens não vestidos, olhando-se silenciosamente. Um na frente do outro, facilitava criar as comparações obvías. Claro que tinham caracteristicas comuns pelo fato de serem ambos sugadores de sangue. Porém Alberto, o que havia se tornado vampiro há apenas algumas horas, era sem dúvida absurdamente mais belo que seu criador. Isso devia a sua própria fisionomia, não envolvia nada com sua nova definição de espécie. Seus olhos eram convidativos e tão persuadores que você nem se daria conta que estava obdecendo ordens, porque eles faziam desejar realizar os seus desejos. A grave da sua voz era o mais próximo de um sussurro, e não era programado. Era tão belo quanto seu rosto coberto de feições. Ele conseguia ter milhões de interpretações, paralisado. Como se fosse uma criança engenua e ao mesmo tempo um homem adulto completamente sedutor e mortal. Enquanto, na outra mão estava o outro vampiro. Também com seus traços e originalidade, aposto que ele era muito gentil. Na outra mão, pra ser mais exato estava eu.

Ele abriu a boca, e seus dentes perfeitos e apaixonantes estavam a mostra. E seus caninos aumentariam trazendo o vento que após percorrer toda minha espinha, deixaria seu rastro na minha pele. Toda arrepiada e minhas pernas tombariam.
Mesmo eu sendo um vampiro e sendo eu quem o transformou, não pude conter o arrepio. Não tinha nada a ver com sermos dois seres imortais e hipnotizadores. Era algo mais básico. Ele sabia que me provocaria, ele sabia o efeito de cada ação em mim. E por isso fazia. E não sorriu ao me ver, todo preparado pra me render. Ele teve que se inclinar um pouco, por ser tão alto.

Ofereci meu pescoço, quase que num empulso. Mesmo sem precisar ouvir nenhum pedido ou ordem. Não havia riscos. Eu já era vampiro. Eu era o vampiro que o transformou. Eu era seu criador. Eu sabia que isso não passava de uma brincadeira. Uma provocação.
Estiquei meu pescoço e sem mover qualquer parte do meu corpo, congelamos. Naquela posição poetica de possessão. E eu era todo dele agora. Cada parte de mim, por mais que pequena e frágil, pertencia eternamente a um único vampiro.

Ele se deu o luxo de respirar no meu pescoço e soltou um leve riso maldoso, quando extremeci. Controlou sua gargalhada para não perder o controle absoluto. Eu não pude prender as palavras na minha boca pelo tempo necessário:

- Me morda. - Foi um sussurro. Quase mudo. Como se fosse só um pensamento. Mas eu sei que ele ouviu. E tocou seus intocáveis lábios macios no meu pescoço. Nesse momento, eu era o universo. Eu era tudo. Eu era o mundo, eu era Deus, eu era o nada.

O extase aumento quando seus lábios abriram e pude ouvir seus dentes prontos. Ele passou sua mão sobre minha perna e solto-a no meu pescoço, do outro lado que a sua boca cobria.
Eu então fechei os olhos e logo estava olhando-me no espelho, sem reflexo. Sozinho.
Com uma marca de dois pequenos pontos estampada em meu pescoço. Infelizmente, não fora feita hoje. E nem pelo meu melhor amigo.

Um comentário:

Nara Queiroz disse...

Voce me contou desse sonho risos.